O que há por trás da Raiva e do Amor

 17 de maio 10:00 da manhã


A enfermeira de plantão na enfermaria era Sheila Belly, uma mulher de meia idade que parecia tão cansada daquela escola quanto eu estava, e pela postura dela parece alguém que largaria tudo aquilo para o alto a qualquer momento.

- O que é que vocês têm? -  ela fala sem nem olhar para nós. Estava jogada em sua cadeira, com os pés descalços em cima da mesa, cabelo num coque desfeito e a cara enfiada no celular. 
- Ela foi agredida por uma maluca à pouco - Sophia disse em tom dramático me segurando pelos ombros.
- Hum, - a enfermeira disse ainda sem nos olhar - se vocês estão aqui para matar aula é melhor desistir, não vou ficar distribuindo atestado. 
- Nós estamos falando sério - Sophia disse, e como Arthur tinha feito anteriormente arrancou o celular das mãos da mulher que finalmente olhou para a gente - se quisesse matar aula eu simplesmente estaria lá fora agora, aproveitando o meu dia e não aqui com alguém tão anti profissional como você - ela disse.
- Eita poxa! - Micael disse rindo e até eu fiquei chocada com a atitude de Sophia.  De toda nós ela é a mais doce e educada, mas sei que faz de tudo para nos proteger até virar uma fera. 

 A mulher parecia zangada com a atitude de Sophia, mas ela estava tão de saco cheio que simplesmente levantou pegou o celular da mão dela e me olhou. 
- Não gosto da forma como fala - a enfermeira olhou de cima a baixo para Sophia - e só por isso poderia me negar a atende-la. - ela disse colocando os óculos - Mas como estou de bom humor, e faltam apenas algumas horas para o meu almoço vou relevar. 
Sophia bufou, mas eu a olhei feio para que ela ficasse calada. 
- Meu pescoço dói, minha garganta também, estou com falta de ar e um pouco tonta. - disse rápido, não queria ter que explicar para a enfermeira a história toda, e tanto quanto ela queria dar o fora dali, então fui rápida - Você tem alguma coisa que possa me dar, um analgésico, um remédio ou sei lá que faça isso passar... - eu disse tirando o casaco para que ela pudesse ver o meu pescoço, mas me arrependi assim que o fiz.
- O que.. o que foi isso meu Deus? - a enfermeira disse quase gritando, agora ela me olhava assustada e pude ver através do espelho atrás dela o porquê. Meu pescoço tinha duas marcas vermelhas grandes e um roxo delicado em algumas partes, até eu me surpreendi. Na hora eu não havia me tocado da força que Carla empregou quando me esganou e é por isso que até agora é difícil respirar.

- Eu falei que era sério. - Sophia não se conteve em dizer com ar superior - o que a senhora vai fazer? Vai mandar a gente para vazar com um atestado... - ela continuou, mas Micael e eu a cortamos.
- Tá bom Sophia - nós falamos quase ao mesmo tempo.

- Acho que ela já entendeu a gravidade. - eu disse olhando para o rosto assutado da enfermeira.
- O que eu não entendi foi como você fez isso ... - ela disse tocando de leve no local,  o que me fez recuar um pouco.
     - Ela não fez isso, como eu já disse foi um louca que a atacou. - Sophia falou revirando os olhos.
- Não era tão louca assim, já que motivos ela tinha não é mesmo? - Micael disse enquanto mexia na caixa de band-aids na mesa da enfermeira.
  - Mesmo furiosa, envergonhada, ou sei lá o que é que ela estava sentindo - Sophia falou irritada agora com Micael - não justifica atacar uma pessoa com tanta agressividade. E pelo que você falou a Lua só disse algo que todo mundo meio que já sabia. 
- Não acho que foi só por isso - Micael disse sem se incomodar com a raiva na voz de Sophia - tenho pra mim que ela atacou Lua, não só pelo que ela disse, mas por todos esses anos. Acumulou tudo e liberou nela naquele momento.
Sophia e eu olhava para Micael um tanto chocadas e percebi que estávamos pensando a mesma coisa
e fui a dizer: - Acumulou o que? Para mim ela nunca deixou de ser insignificante, nunca fiz nada para ela! - falei enquanto a enfermeira ainda tocava o meu pescoço, totalmente muda e chocada.

- Verdade, a Lua nem liga para a existência dessa garota. - Sophia diz ainda mais irritada olhando para Micael.

- Acredito que não liguem para ela, mas dizer que nunca fizeram nada contra ela, aí também já é demais. - Micael diz ainda concentrado nos Band- Aids.
Troco um olhar com Sophia e percebo que ela entendeu o que ele disse tanto quanto eu. O fato é que eu realmente nunca me importei com Carla Dias, assim como não me importava com Pérola Farias e muitas outras pessoas no Thomas Jefferson, mas no final das contas nós eramos inimigas por alguma razão e isso transformava a nossas vidas numa espécie de guerra fria dentro do colégio.

            Um exemplo disso é a própria Carla; me tornei sua inimiga quando fiquei do lado de Joanna quando ela espalhou o caso que Joanna tinha com o namorado de Jhulie, para a própria Jhulie e o resta da escola.  Mas antes disso eu e as meninas eramos até privilegiadas com informações constrangedoras sobre outras pessoas que vinham da própria Carla, e mesmo Joanna sendo errada em toda essa história, quando Carla saiu espalhando por aí, nós decidimos nos vingar. Eu sei que não era o certo a se fazer, mas é como funciona aqui nessa escola, aqui é assim, se mexem com você, é a sua obrigação mexer de volta senão a culpa vai ser sua se fizerem de novo. Você tem que deixar seu recado.
        Falamos com Richard um amigo de Fernando, meu namorado, mas  que na época era só um amigo, e pedimos para ele fingir que iria contratá-la para trabalhar durante o verão como assistente dele numa loja de discos. Joanna sabia que ela estava precisando de dinheiro já que era de certa forma próxima a Carla antes de toda essa história. Carla ficou muito contente, dando pulinhos e abraçou Fernando agradecendo pela ajuda, mas quando ela chegou lá com o pai dela para pegar a vaga, Richard fez o que tínhamos combinado: ele disse que era uma vaga temporária e que ela só receberia depois de dois meses de trabalho e tudo de uma vez, ela acabou aceitando já que precisava muito do dinheiro. 

     Ele a fez cumprir várias tarefas e trabalhar pesado durante dois meses, as notas dela que eram sempre perfeitas caíram bastante e ela começou a se atrasar por conta dos horários de trabalho. Quando ela fosse receber todo o pagamento junto nós agiríamos, então quando chegou um dia antes de seu pagamento Joanna armou um esquema enorme. Para resumir a loja foi esvaziada, vandalizada, e suja e fizemos tudo isso conseguindo incriminá-la. 
         Nós apagamos as imagens das câmeras de segurança e inventamos uma história junto com alguns amigos nossos de que ela havia feito uma festa durante o horário de trabalho, rolou drogas, bebidas, o pessoal se animou demais e acabou acontecendo aquilo tudo. No fim das contas ela não só foi demitida, como teve que pagar por todo prejuízo, além dos pais dela que ficaram chocados o que achavam que ela tinha feito, que até ameaçaram tirá-la da escola. Tudo isso por ter mexido com Joanna.

Ninguém da escola soube com certeza que foi a gente, só é claro os nossos amigos que nunca espalhariam, e as pessoas que tanto quanto Carla odeiam a gente e acabaram acreditando nela. E eu sei que não era disso que Micael falava, pois não acho que seja próximo a Carla, mas depois de termos feito isso com ela essa briga só se alongou mais ainda com bate bocas durante aulas, indiretas pelos corredores, e até brigas de fato durante uma festa e como nunca entrávamos em briga para perder ela sempre saia de vítima na história. Então todos sabiam que não nos dávamos bem com Carla.

A enfermeira parece não ter escutado a nossa discussão com Micael, ou simplesmente não deu bola. Ela continuava tocando de leve no meu pescoço e disse finalmente: - Não tem muito o que eu possa fazer por você. Só posso massagear o local com uma pomada e esperar que com o tempo vá clareando e o desconforto na respiração vá passando. - Sheila diz tão séria e profissional que não lembra em nada a mulher desleixada de quando entramos na sala - A falta de ar é a causa da tontura e dor de cabeça, por isso um analgésico não vai adiantar muito, mas pode fazer a dor diminuir. - ela foi em direção a um armário com portas de vidro onde estavam os remédios e o abriu com uma chave.

- É alérgica a algum tipo de remédio? - ela pergunta 

- Não... - eu digo um pouco zonza depois dessa mudança de atitude dela - quer dizer, eu não sei.
- Bom, fique aqui eu vou até a diretoria pegar sua ficha para ter certeza. - Sheila diz - E vocês dois - ela fala parecendo que havia esquecido da presença de Sophia e Micael ali - se não estão doentes podem se retirar por favor.
- Eu não vou deixar a Lua sozinha aqui. - Sophia diz vindo segurar minha mão.
- Não posso deixar nenhum aluno ficar aqui matando aula - Sheila diz - então se não estão com nenhum problema... e não adianta dizer cólica pois não sou professora de Educação Física para cair nessa. - ela fala vendo que Sophia colocava as mãos na barriga fingido dor.  

- Tudo bem Sophs - digo - pode ir, quando sair daqui eu vou direto para o refeitório e te encontro lá.
- Okay, então. - ela diz vencida e me abraça apertado - Se precisar grita... ou só sussurra, que eu venho do mesmo jeito minha tirulipa.
- Pode deixar. - digo sorrindo. É sempre tão bom saber que tenho com quem contar.
- Melhoras aí Lua Maria - Micael diz brincalhão novamente com um sorriso no rosto - estou com um pressentimento que vou te ver de novo hoje então... até mais.
- Espero que esteja errado quanto nos vermos novamente, mas até... qualquer dia. - digo e ele ri, e os dois saem.

A enfermeira vem até mim com um copo d'água e vai para a porta, e ao mesmo tempo que ela abre dá de cara com Arthur e quase caí no chão.
- Opa, foi mal. - Arthur fala sem emoção na voz enquanto segura o braço de Sheila impedindo que ela caia.
- Você outa vez, rapaz? Não diga que estava brigando de novo, porque só com você eu já gastei uma caixa inteira de esparadrapo essa semana. - ela fala já de pé.
- Não é nada de mais. Você estava de saída, se estiver posso voltar depois. - ele diz passando por ela.
- Me espere aqui. - ela diz o avaliando, procurando algum machucado aparente pelo corpo dele, mas quando não vê nada ela completa - Sente ali  que eu já venho. E você - ela diz para mim e só então Arthur percebe minha presença - como é seu nome mesmo?
- Lua Maria Kingston Blanco - digo, e então ela sai.

Arthur me ignora totalmente e fica espiando a porta até ouvir o barulho dos saltos da enfermeira se distanciar. Só então noto que ele está com as chaves dos armários de remédios que ela tinha usado antes, nas mãos.

- Então foi por isso que trombou com ela? - digo e só então ele me olha - Para pegar as chaves do armário? - ele abri as portas dos armários com as chaves e olha cada embalagem uma a uma procurando por algo.
- Sou bem desastrado quando preciso - ele diz sarcástico - não consigo enxergar por uma porta de vidro e acabei trombando nela, a chave caiu e eu a guardei comigo esperando ela chegar para devolver sem mexer em nada.
- Acha que ela vai cair nessa? - eu digo - Ela com certeza vai perceber que tem algo faltando nas prateleiras.

- Droga! - ele diz fechando as portas dos armários com força e então começa a tentar abrir as gavetas da mesa da enfermeira com outras chaves. - Não tem nada que sirva. - ele ignora totalmente  as minhas perguntas o que me deixar bastante irritada. Não esqueci do fato dele ter me deixado lá e saído com a Carla mesmo depois DELA ter me atacado, me sinto uma idiota por achar que posso cobrar alguma coisa dele. Vim o caminho todo repetindo para mim mesma que ele não me deve nada, que agora é só mais um estranho, mas não consigo evitar, uma parte de mim bem lá no fundo ainda lembra da nossa amizade, ainda espera que ele me proteja, que ele fique do meu lado. 

- O que é que você tanto procura hein? - falo alto agora para que ele preste atenção, mas continua a me ignorar. E então noto que ele está mexendo numa das gavetas pessoais da Sheila, e tira de lá um frasco de algum remédio com uma faixa preta na embalagem.
- Isso deve servir. - ele diz e tira dois comprimidos de dentro do frasco os guarda no bolso e então coloca o frasco de volta onde estava.

- Remédios faixa preta, sério? - falo agora baixo, mas faço questão de que seja alto o suficiente para que ele escute. Já que ele não quer falar comigo, ao menos posso irritá-lo. - Pensei que o lance dos garotos metidos a rebelde era só cigarro para parecer legal ou coisa assim. Não pensei que o vício era real nem que chegasse a esse ponto. - digo em um tom seco olhando para as minhas mãos evitando olhá-lo, e ele não diz nada por um momento, mas mesmo sem vê-lo posso sentir que consegui o que queria.
    Ele senta onde Sheila havia dito para ele esperá-la e coloca as chaves no chão, próximo a porta estrategicamente para que, quem visse de fora pudesse muito bem pensar que a chave caiu casualmente quando eles trombaram na porta. Ele finalmente me olha e diz:

- E eu pensei que o lance das rainhas do baile fosse só futilidades como contar calorias do que está comendo com medo de engordar, ou ficar irritada quando a sua rival vem com a mesma roupa que você para uma festa, e não humilhar alguém em público só para massagear o próprio ego. - ele diz calmo, mas consigo sentir o tom cortante das suas palavras. 

- Hum, - finjo uma risada, tento disfarçar o impacto real que as palavras dele me causam - tá com pena? Leva pra casa. Não pensei que o garoto problema ia ficar derretido logo pela vaca da Carla, já que há uns 10 minutos você estava tratando ela da mesma forma que eu.

- Nunca disse que sou um cara legal - ele fala agora com um leve sorriso no rosto, mas não um sorriso feliz, é mais uma arma do seu sarcasmo - mas ao menos posso dormir tranquilo sabendo que nunca desceria tão baixo só para me sentir superior à alguém. Posso não gostar da Carla o tanto quanto você ou qualquer pessoa com um cérebro nessa escola, mas nunca, - ele fala agora abrindo mais ainda o seu sorriso falso - mesmo sendo o idiota que eu sei que sou, desceria tão baixo o quanto você desceu só para ganhar uma briguinha besta.

- O que você chama de "descer baixo demais" eu chamo de me igualar ao nível do meu oponente. Digamos que para conversar com uma cobra você precisa se aproximar, descer onde ela está, só assim ela vai te entender. - eu digo friamente, mas por dentro uma sensação ruim toma o meu peito. A frieza com que ele me olha, e a forma como ele falou comigo fazem com que eu me sinta uma pessoa muito pior do que eu sei que sou (do que eu acho que sou).

- Se fosse há um tempo atrás eu até acreditaria que você precisou descer para se igualar a ela - ele diz me olhando nos olhos. Estamos relativamente longe um do outro, mas o peso do seu olhar ainda assim era muito forte. - mas depois de tanto tempo e de perceber o quanto você mudou eu não acho que foi necessário Lua - ele fala meu nome de uma forma tão particular que faz com que o meus batimentos acelerem de leve - acho que você já está lá. Num nível mais próximo ao dela do que você imagina.

- Não está me comparando a ela, não é? Por que se estiver pode parar por aí. Ela é a pessoa mais manipuladora que conheço, se faz de boazinha para ficar sabendo do que todo mundo faz, e depois sai por aí espalhando o que ouviu. Ela é invejosa e dissimulada que não consegue ter o que quer e por isso faz de tudo para estragar a felicidade alheia. - eu digo rápido demais, quase tropeçando nas palavras e tenho que me conter para não deixar transparecer o quanto eu fiquei mexida com o que ele disse - Me ofende pensar que você se quer possa me comparar a ela!

- Nossa, não pensei que fosse ficar tão incomodada com minha opinião. - ele diz rindo de leve para me provocar - Esqueci que é tudo sobre isso. É tudo sobre reputação, e como as pessoas te veem. Você pode estar podre por dentro, com tanto que todos vejam apenas os sorrisos, ou você "ganhando" uma briga, você já se dá por satisfeita, mesmo que para isso precise destruir alguém por completo.

- Você se acha tão melhor que eu não? - digo irritada - Eu sou o que? A vilã do filme da tarde, a Mean Girl, a patricinha sem escrúpulos, e você é só o mocinho bonzinho que eu deixei para trás quando fui para o lado negro da força. - digo revirando os olhos - Se eu estou podre por dentro como você diz, você não é muito diferente de mim, não venha querer dar uma de bonzinho por que eu sei quem você é Arthur, tanto quanto você acha que me conhece.

- Esse é o problema Lua - ele diz agora sério - eu não te conheço. Não mais, e não me acho melhor que você, sei muito bem que nenhum de nós dois é um exemplo de perfeição, sei que você não é uma garota sem escrúpulos que aparentou ser há alguns minutos atrás, mas também não é mais nem de perto a Lua de antes. E isso por si só é ruim. -  ele diz e desvia o olhar do meu. Pelo seu tom ele estava sendo totalmente sincero comigo, o que me desarma por completo.

- "Lua de antes"? A tal Lua de antes que você diz era só eu sendo criança, se você não percebeu nós dois crescemos, e eu não estou jogando na sua cara que você não é mais o Arthur de antes, porque sei que você também cresceu e mudou bastante, até mais do que eu se quer saber. - falo apontando para as roupas dele - Você assim como eu sabe o quanto o ensino médio é difícil, principalmente num lugar como o Thomas Jefferson, a Lua de antes não sobreviveria aqui nem por um dia.

- Se você diz... - ele fala com frieza. Eu espero que ele diga algo mais, mas ele simplesmente começa a brincar com o pingente do seu colar, que parece ser uma palheta e não diz mais nada. A sala fica em um silencio mortal e posso perceber pela forma como ele mexe em seu pingente que ele quer falar algo tanto quanto eu, mas meu orgulho me impede. Alguns segundos se passam e então quando ele finalmente vai dizer algo...

*Thinking out loud - Ed Sheeran começa a tocar baixo no meu bolso.
- Não tinha nada mais brega?! - Arthur diz revirando os olhos.
 É o toque de telefone que dei para quando Fernando me liga, e só então me lembro de que tinha marcado de matar o segundo horário para me encontrar com ele.

Telefone ON

 - Fê! - atendo apressada desviando do olhar de Arthur.
- Lua? Até que enfim consigo falar com você! Eu fiquei te esperando no estacionamento uns 30 minutos, está onde? - Fernando fala, faz tempo que não nos falamos então meu coração dá mais pulinhos que as líderes de torcida. Mesmo estudando na mesma escola nós nos vemos pouco pois ele é uma no mais velho que eu e se forma esse ano, além de fazer parte do time de futebol da escola o que tira bastante tempo dele, já que ele tem treino quase todos os dias.

- Estou na enfermaria... - digo calmamente sem me tocar que ele não sabia de nada que tinha acontecido.
- O que houve? Você se machucou? - ele diz preocupado.
- Não... não está tudo bem. Foi só um... - não quero contar da briga por telefone, então tento soar o mais relaxada possível. - eu me machuquei na organização do dia do cupido, mas é uma longa história. É tão fofo ver você preocupado! - digo com um sorriso bobo, percebo que Arthur me encara também sorrindo, mas o dele não é nada bobo, parece que está debochando de mim.

- Não estou sendo fofo. - ele diz com malícia na voz - Só estou garantindo que você esteja inteira para hoje a noite.
Não consigo evitar, só consigo sentir todo meu rosto queimando por inteiro com as palavras dele. Com tudo isso acontecendo eu nem tive tempo para pensar muito sobre isso, mas hoje a noite eu ia dormir na casa do Fernando pela primeira vez e era óbvio o que aconteceria. Nós vinhamos falando dessa noite há bastante tempo, mas só agora a ficha estava caindo, e todas as minhas tentativas de não ficar nervosa caíram por terra.
- Alô, Lua? - ele disse quando eu fico em silencio por alguns segundo.
- Oi! - eu digo sem consegui formar uma frase completa de tanta vergonha que estava sentindo.
- Tá tudo certo para hoje, não é? - ele diz ainda maliciosamente.
- Sim, claro... - não consigo disfarçar o meu nervosismo.
- Relaxa minha linda! Eu vou cuidar bem de você. - Fernando fala percebendo que eu tinha travado. Mesmo convivendo com Ally e Joanna que nunca paravam de falar sobre sexo, sem a mínima vergonha eu não conseguia ter a mesma desenvoltura que elas sobre esse assunto, nem com elas, muito menos com Fernando. E quando estávamos juntos e o clima esquentava um poco demais eu sempre acabava cortando as carícias por nervosismo, o que eu sei que sempre deixou Fernando frustrado, mas ele sempre me respeitou, então não tentava forçar nada. Por isso eu sei o quanto ele esperava por essa noite.
- Disso eu tenho certeza. - tentei soar animada, e usar o mesmo tom de malícia que ele usou comigo para disfarçar meu desconforto, e ele acabou acreditando.
- Pode ter certeza linda. - ele diz animado - Ainda vou te ver hoje, ou só na festa do Dia do Cupido? - ele pergunta mudando de assunto.

- Não achei que nós fossemos para a festa, pensei que iríamos direto para a sua casa. - falei esquecida da presença de Arthur na sala que ainda brincava com seu cordão enquanto me olhava.
- É, nós vamos, mas eu tenho que dá uma passada na festa antes para dar um oi para os caras do time, e como sei  que você e suas amigas estão animadas para essa festa a gente dá uma passada na festa e então depois vamos para minha casa. - ele diz e tenho até vontade de rir. Nunca conversei com Fernando sobre o assunto, sobre como detesto o Dia do Cupido e toda essa baboseira, e acho que nunca teria coragem. Todos pareciam achar que eu amava esse dia, que era tão importante para mim quanto era para Joanna e todas as outras garotas "populares" por assim dizer, então já que ele me ver assim decido não desdizê-lo.

- Ok, vai ser legal. - novamente finjo animação.
- Tudo bem. - Fernando diz - Agora tenho que ir para minha aula, queria muito ir te ver aí na enfermaria, mas tenho teste agora. Te vejo depois.
- Boa sorte no teste mozi! - consigo ouvir Arthur rir, mas nem dou importância.
- Fica bem, tchau! - Fernando diz e desliga.

Telefone OFF

Arthur me olha com um sorriso no rosto.
- Seu "mozi" não vem resgatar a princesa indefesa dela? - Arthur diz ainda com aquele sorrisinho irritante no rosto.
- Ele gostaria, mas eu não preciso ser resgatada, e diferente de algumas pessoas ele admira a Nova Lua, a que sabe se virar sozinha. - eu digo sorrindo de volta irônica.
- Foi essa a desculpa que ele usou? - Arthur diz com o sorriso se alargando e eu não entendo onde ele quer chegar com aquelas perguntas então decido entrar no jogo dele.
- Ele tinha uma teste importante para fazer, eu não ia pedir para ele vim aqui e se ferrar só para me ver tomar um comprimido. - digo esperando pela resposta.
- Hum, - ele diz me torturando com a demora para responder - devo estar confundindo seu namorado, mas ele não era do time de futebol? - ele diz como se tentasse me explicar algo simples.
- É, ele é atacante no time da escola, porque? - pergunto irritada com aquele joguinho dele.
- Nada, - ele diz me olhando como quem olha para uma criança que não sabe quanto é um mais um, o que me tira do sério - devo está por fora da organização da escola, mas pensei que os atletas só faziam os testes depois de Junho por conta dos treinos.
Eu emudeço por alguns milésimos. Por conta dos treinos os atletas tem aulas a mais e fazem as provas e testes em um período diferente dos demais alunos, esse é um dos motivos pelos quais não vejo Fernando todos os dias. Arthur parece perceber o eu choque e ri ainda mais quando olha para mim.

-Bom,- ele diz levantando da sua cadeira - fala para Sra. Belly que eu só vim aqui matar aula, e que quando o sino tocou eu dei no pé, ou qualquer coisa assim... Preciso entregar esses comprimidos para Carla, amansar a fera antes que ela esgane mais alguém.

Eu não consigo dizer nada, e quando percebo que ele vai embora sorrindo daquele jeito, só posso deduzir que ele sabe de alguma coisa. Ele sabe o porquê o Fernando mentiu para mim assim tão descaradamente.

- Você não vai me contar? - fico de pé indo na direção dele - Agora que já fez o seu joguinho pode falar agora mesmo o que sabe! - digo em tom inquisitivo.

- Pergunta para o "mozi". - ele diz ainda sorrindo e simplesmente sai.
Penso até em correr atrás dele pelos corredores persegui-lo até que me conte a verdade. Mas apenas fico ali parada até Sheila chegar, e todas as possibilidades possíveis passam pela minha mente.













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