17 de Maio- Sexta-Feira ás 6h : 30 da manhã - Parte 1


Biiiih biii bii bii- Joanna buzinava do carro, no ritmo de alguma música. Olhei pela janela, e acenei para ela num sinal de que ela já podia parar de buzinar, mas como sempre ela continuou.
- Lua, desce logo, a Joanna vai acabar acordando a vizinhança inteira com essa buzinada todo ai na frente! - Minha mãe gritou do andar de baixo.
- Já vou! - Respondi, dando uma última olhada no espelho e arrumando novamente o meu cabelo. -Pronto! - falei pra mim mesma.
Desci quase que correndo, já estava ficando irritada com aquele barulho todo que a Joanna estava fazendo.
- Lulis,cê já vai? - Marisol, me puxou pela mão me arrastando até a cozinha. E como sempre, a minha irmãzinha estava com as mãos sujas de pasta de amendoim. A garota parece que é movida a pasta de amendoim. Me sujou toda.
- Credo Marissol! Toda suja de pasta, como sempre né?! - fui em direção a pia lavar minhas mãos, enquanto ela continuava me fitando. - Por que não para de comer essa porcaria, e vê se como outra coisa. Vai acabar ficando uma baleia de tão gorda! - Falei irritada, enquanto ela se lambuzava com aquilo.
- Eu gosto de baleias. - Ela falou animada. Eu simplesmente não entendo por que meus pais não a levam no fonoaudiólogo, ela falou ” eu gosto de baleias”, mas saiu “eu gouxtu di balleiaxs”.
- Vai trocar de roupa, vai…- falei tomando a pasta das suas mãos.- daqui a pouco você vai pra escola, e se você chegar toda suja desse jeito é capaz de te expulsarem de lá pensando de que é uma mendiga!
- Não, não eu tô bem assim .- Ela falou rindo. É incrivelmente irritante toda aquela alegria que a minha irmã. Ela estava parecendo uma palhaça, com uma peça de roupa de cada cor, e ainda mais usando uma galocha colorida simplesmente hor-rí-vel.
- Vai trocar de roupa, anda. As crianças vão te zoar, já não basta esse seu problema de dicção, ainda quer dar mais motivos pra rirem de você?
- O que é dixixão Lulis?- Que voz irritante meu deus!
- Marissol vai …-  fui interrompida pelo barulho da porta batendo. Eu tinha me esquecido que a Joanna estava me esperando.
Fui abri a porta e vi que Marisol nesse tempinho de nada já tinha pegado o pote de cima da mesa de novo, que garotinha irritante viu?!
- Lua, eu tô plantada lá fora a meia-hora te esperando e você nem tchum! Vambora!- Ela disse e puxando pela manga do casaco.
-Espera Joanna, eu preciso pegar minha bolsa.- Fui pra cozinha sendo seguida por Joanna, que logo riu quando avistou a minha irmã toda lambuzada.
- Não sabia que vocês estavam tomando conta da filha do Sherek.- Ela disse rindo e eu revirei os olhos.
- Oi Jhhooooo! - Marissol falou daquele mesmo jeito irritante de sempre. Ok que eu estou sendo grossa, ela só tem 7 anos, mas ela podia tentar se comportar como um ser humano ao menos uma vez na vida?
-Oi Marissol…-Joanna falou se esquivando fazendo de tudo pra que Marissol não encostasse nela com as mão sujas.- Porque você não vai tomar banho pra ir pra escola ein? -Joanna disse com cara de nojo, ainda tentando se esquivar dela.
-Eu já tô pronta pra escola Joaninha! -Marissol respondeu sorrindo banguela. -quer pasta? É de amendoim! 
- Não, valeu. Bora Lua! - Ela disse novamente me puxando pelo casaco, quase que correndo pra que Marissol não viesse atrás da gente. E de novo fui interrompida antes de sair, só que agora pela minha mãe..
- Oi Joanna! - minha mãe disse sorridente.
- Oi senhora Blanco! - Joanna falou forçando uma animação inexistente. 
- Lua, você não tá esquecendo de nada não? - Ela me olhou com aquele olhar de mãe, super chata e metódica ás 6 da manhã. 
- Acho que não! 
- Tem certeza? - Ela não podia me dizer logo o que eu tinha esquecido não? Eu simplesmente odeio quando minha mãe faz isso.
- Diz logo, eu tô atrasada! - falei deixando transparecer minha irritação.
- O seu livro de biologia tá em cima da estante, esqueceu lá ontem! - Ela disse, com o mesmo tom de voz irritado que eu usei para responde-la anteriormente. Agora me diz, se nem eu lembrava que tinha aulas de biologia hoje, como é que a minha mãe sabe? Peguei o livro, e fui em direção a porta, pude ouvir me pai falar algo que não entendi o que era, também não me importava mais. Foi algo como : “Boa aula, e traga as flores!”
Droga! Eu tinha me esquecido completamente que hoje era o dia do cúpido, que nada mais é, do que um dia onde testam a nossa popularidade pelo número de flores que recebemos. Funciona assim: Cada pessoa pode mandar quantas flores, ou caixinhas com lembrancinhas quiser, mas só uma pra cada pessoa. Segundo o Diretor Araripe, o intuito do dia do cúpido é mostrar o quanto gostamos dos nossos colegas, mas de uns tempos pra cá, ficou claro pros alunos que isso não é nada além de um teste de popularidade. Quanto mias flores, ou caixinhas você receber, mais popular você é considerado. Além disto, no final das aulas no dia do cúpido, nós temos uma confraternização na quadra do colégio, onde são abertas cartas que outros amigos nós mandam. É um dia bem idiota na minha opinião. 
- As flores! - Falei olhando para a Joanna enquanto entravamos no carro.
- É, as flores! - Ela disse sorridente.- Quantas acha que vai ganhar hoje? - Ela perguntou ligando o carro, e dando partida.
- Não sei, ficaria feliz com 15. - Respondi sem dar muita bola.
- Que animação ein?! - Ela falou irônica, enquanto conectava o ipod ao rádio do carro. - Você já foi uma pessoa ias feliz! O dia do cúpido pra mim, é um dos melhores. O ano passado eu ganhei 70 flores, e umas 50 caixinhas, cheias de coisas legais. 
- Não vejo muita graça no dia cúpido. - falei, enquanto escolhia a música que iriamos escutar durante o trajeto. - No final, as pessoas sempre jogam as flores fora, a escola fica uma zona, e as lembrancinhas que colocam nas caixinhas são umas porcarias. 
Joanna revirou os olhos com o meu comentário - Você esta parecendo aquelas velhinhas, ranzinzas. O que foi? Brigou com o Fê? 
- Não Jo, não briguei com ele, na verdade ele nem me ligou desde quarta-feira. - Respondi entediada. Finalmente escolhi a música que ouviríamos: Too little too late - Jojo 
- O que? Quarta- feira Lua! - ela gritou, e tirou as mãos do volante quase batendo com o carro. - E ontem garota? Ele não te ligou não foi?
- Não precisa gritar Joanna! - Falei segurando o volante enquanto ela abria a bolsa, procurando alguma coisa. - Quer fazer o favor de prestar atenção no transito! - Gritei no mesmo tom de voz que ela. Joanna sempre foi um perigo na direção, nunca presta atenção, e sempre solta o volante. Não sei como o pai dela ainda deixa ela dirigi mesmo com tantas multas. 
- Ok, ok. - ela falou voltando a segurar o volante, apenas com uma mão enquanto com a outra, passa o rímel. Realmente ela tem muita habilidade, ela consegue passar maquiagem sem borrar enquanto dirige e eu demoro horas sem esta fazendo nada paralelo. E novamente, ela desviou bruscamente de um ouro carro. - Desculpinhas! - ela falou notando a minha cara brava olhando pra ela. - Você não faz ideia de como é difícil passar maquiagem ao volante!
- É por isso que não se passa né Joanna?! - falei tomando o rímel da mão dela.
- Ei! Devolve…
- Não, se concentra ai vai! - passei, ou pelo menos tentei passar o rímel, sem o mínimo de sucesso. Guardei, irritada aquele troço na bolsa. Nunca vou ser uma boa maquiadora.
Chegamos até a casa do Allison, e a Joanna como sempre começou a buzinar desvairadamente. Sempre é assim: como a Allison e a Joanna já tem carteira de habilitação, elas sempre vão buscar a mim, e a Sophia já que ainda não temos carteira, e no meu caso nem carro eu tenho. 
A casa da Allison se parece muito com a minha, tem um primeiro andar, um jardim enorme e um quintal na parte de trás. É como a maioria das casa naquele bairro, que por sinal é um dos mais calmos e seguros da nossa cidade. Tão calmo e tão seguro que chegava a ser chato e monótono. 
- Ally sua vadia, anda logo! - Joanna gritou. 
- Não sei como ainda não se acostumou com os atrasos da Ally. - Falei observando a rua pouco movimenta através da janela.
- Cinco anos de amizade, e acho que eu perdi um só esperando por ela. - Nos duas rimos. Ally sempre chegava atrasada em qualquer compromisso. 
Avistei Ally saindo de casa, com um monte de sacolas numa mão e o celular na outra. E claro, como de costume vestida como se estivesse indo ao shopping.
- Oi vacas minhas! - Alle entrou no carrou e sentou no banco de trás. Com o mesmo bom humor de sempre.
- Vou nem falar da demora, porque eu já deveria esta acostumada. - Joanna falou dando novamente partida no carro, e com cara de deboche.
- Haha, porque não aproveitaram a minha demora e trabalharam um pouco, já estavam na esquina mesmo. E o que não falta é velho tarado naquela rua, vocês podiam ter faturado muito! - Ela sorriu, abrindo a sacola que carregava em uma das mãos e me dando um copo de café.
- Frappucino com caramelo? - perguntei.
- Exatamente do jeito que você gosta! - ela disse erguendo o braço pra dar um copo para a Joanna. Eu a empurrei.
-Tá louca Ally! - Exclamei, quase gritando.
- O que foi? - Ela perguntou se entender.
-A Joanna só hoje quase me matou duas vezes seguidas, e você ainda quer dar comida pra ela enquanto dirige? Enlouqueceu de vez foi? - Ally riu, guardando o café da Joanna novamente dentro da sacola.
- Lua você realmente é um porre. - Joanna falou se virando pra pegar o café, e novamente soltando o volante. Odeio quando ela age dessa forma, completamente idiota! E o pior que ela agia assim na maioria do tempo. E talvez fosse por isso que eu gosto tanto dela.
Segurei o volante enquanto ela pegava o café, eu provavelmente estava dirigindo mais que ela hoje. 
- Então qual é o B.O de hoje? - Ally perguntou depois que Joanna voltou a dirigir.
- Nenhum. - Eu disse.
- Nenhum? O problema de hoje é a Lua, e o chá de sumiço que o Fê tomou. Ele não liga pra ela desde a quarta-feira. - ela tomou um outro gole de café. - E olha que nós já estamos na sexta.
- Vish, aconteceu alguma coisa Lu?
- Nada, tá tudo ótimo…- falei, e a Joanna parou o carro bruscamente.
- Joanna! - exclamei brava, essa era a terceira vez hoje que ela fazia isso.- Da próxima vez me avisa que vai fazer isso. Eu quase derramei todo o eu café!
- Putz, Joanna eu vou te matar sua desgraçada! - Ally gritou, fazendo que nós olhássemos para ela. Ela tinha derrubado um pouco de café na bolsa.
- Eu falei que ia da merda, deixar a Joanna dirigir! - falei.
- Desculpa, é que eu percebi que tínhamos chegado na casa da Sophia, e quase que eu esquecia de parar. - ela falou como se fosse óbvio. - Se bem que essa sua bolsa já tava meio velha né, florzinha!
- Vai te ferrar Joanna, foi você que me deu essa bolsa o ano passado. - Ally estava passado freneticamente o guardanapo na bolsa numa tentativa falha e limpa-la.
- Ai que exagero Ally, eu só tava brincando! - Joanna disse.
Buzinei pra que Sophia visse que tínhamos chegado, percebendo que a briga entre Ally e Joanna não ia acabar tão cedo. Ao contrário de Ally a Sophia foi rápida e dois minutos após eu buzinar ela já tava entrando no carro e sentando ao lado de Ally.
- Bom dia Tirulipas! - falou animada.
- Bom dia? Só se for pra você né?! - Ally disse ainda tentando limpar a bolsa. 
- Sabe, Sophia, tiraram o dia pra julgar a forma que eu dirijo.- Joanna falou com um tom de indignação forçada na voz.
- Perigosamente? - Sophia perguntou, ainda sem entender o motivo do clima ruim.
- Eu vivo perigosamente! - ela piscou pra Sophia que riu.
- E você Luinha? - Sophia perguntou.- Que cara é essa?
- Nada. - Fui curta e grossa.
- Esse nada tem outro nome na minha terra. - Sophia disse - Isso se chama falta de s-e-x-o!
- É bem isso mesmo! - Joanna disse rindo. - O “príncipe” dela a abandonou. - ela disse dando um destaque irônico a palavra príncipe.
- Não é nada disso. - falei já cansada daquele assunto.- Ele tava ocupado, e deve ter esquecido. Só isso!
- Mas você tá preparada para a grande noite de hoje? - Sophia perguntou com cara de criança curiosa.
- Merda!, eu tinha esquecido. Lua é hoje! - Ally falou estérica.
- Isso não é nada demais gente. - Menti, eu estava quase que desesperada desde a terça-ferira quando o Fê disse que a casa dele estaria vazia na sexta á noite. E bem… Ele disse deixou bem claro o que iria acontecer nessa noite. Nós já tínhamos conversado sobre o assunto, mas eu não sabia se estava realmente preparada.
- Nada demais? Lua Maria Kingston Blanco sutou? - Sophia perguntou estérica. Bem típico dela, até porque de nós 4 eu e Sophia eramos as únicas virgens.
- O que você pôs no café dela ein, Ally? - Joanna perguntou.
- Um pouco de pó, mas eu pensei que não ia fazer tão mal assim… - Ally brincou.
- Agora falando sério Luinha, você tem certeza que é isso que você quer? - Joanna disse tão séria que até me assustou.
- É, sim. - Nãooooo! Sei lá, uma parte de mim dizia que eu não queria, mas a outra ficava pensando no Fernando e dizia que sim. Ou seja eu tava mais confusa do que qualquer outra coisa naquele momento.
- Ok…- Ally disse - vai fazer bem a ela, talvez ela se cure dessa patologia.
- Qual?- Perguntei sem entender.
As três se entreolharam e disseram juntas, rindo - FALTA DE S-E-X-O! - todas rimos, e mesmo estando nervosa me senti bem. 
 Olhei pela janela e já dava para avistar o colégio e uma gigantesca placa onde se lia “Demonstre todo o seu carinho pelos colegas. Hoje dia do Cúpido”. Olhei para o o relógio e incrivelmente não estávamos atrasadas, eram 7h e ainda as aulas não haviam começado. 
Antes que nós descêssemos do carro Sophia disse - Então é isso, hoje dia 17 de Maio, uma sexta-feira épica Lua Blanco enfim vai se tornar uma mulher. - Todas rimos do seu tom falsamente sério e descemos do carro. 
Pois é. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Before I Go- Antes que eu vá -PRÓLOGO

Before I go - Antes que eu vá

O que há por trás da Raiva e do Amor