17 de Maio - Sexta-Feira 8:00 da manhã

17 de Maio - Sexta-Feira 8:00 da manhã

        Depois de toda aquela confusão no carro sai em disparada para a aula do professor Anthony, se bem que em disparada não é uma possibilidade quando se estuda no Thomas Jefferson, onde os corredores estão sempre cheios de alunos jogados no chão o mais próximo dos carregadores possível. Mesmo em horário de aula, é só um professor faltar e deixar um horário vazio que os alunos se esparramam largados pelos corredores.
           Faço o possível para não tropeçar em ninguém e enfim consigo chegar na porta da sala que fica no final do corredor de biologia, é uma das piores salas da escola sem dúvidas. Fica perto demais de um pedaço de floresta que fica de trás da escola, e basta ficar só um pouco úmido, como é o caso hoje, que sobe um cheiro de mofo insuportável, e muito nojento. Isso deve explicar o porque do mal humor do Senhor Anthony, além da falta sexo, da qual eu também sofro segundo minhas amigas, mas a dele já deve ser crônica.
         Tento abrir a porta e entrar sem fazer barulho, mas como eu já disse é uma das piores salas da escola. E como eu não costumo ter tanta sorte, quando giro a maçaneta para abrir a porta ela faz um rangido que tira todos os alunos do seu transe diante dos sapos semi dissecados e voltam sua atenção para mim, inclusive o Senhor Anthony.
 - Senhorita Blanco, é uma honra vê-la na minha aula, pensei que só teria o privilégio de vê-la de novo no próximo período quando reprovasse por falta.- diz ele com um falso ar calmo. Ele nunca gostou muito de mim, e eu nunca gostei muito de biologia, então essa conta fecha e acaba que eu sempre me ferro.

- Que nada professor. - digo já entrando na sala e tentando desconversar.- O privilégio é meu de poder desfrutar de uma aula tão gratificante e divertida como só a biologia pode ser, - digo olhando para o sapo morto na minha mesa - não para os sapos ao menos. - Digo e acabo tirando algumas risadas disfarçadas dos meus colegas de classe.

- A senhora se acha muito engraçada não é mesmo? - ele diz.
- Bom, nunca disseram o contrário. - tento brincar percebendo que o ar fingidamente calmo que ele tinha está mudando para legitimamente irritado.
-Pois bem, pode ir para a secretaria e tentar fazer o diretor Araripe rir enquanto ela te dar uma declaração de ausência para os seus pais assinar.- ele fala com um ar triunfante pois sabe que não é a primeira vez que vou visitar o diretor essa semana - não esqueça de me contar se eles riram ao assinar.

-Ou, eu fico aqui, disseco esse sapo perfeitamente, e você me dá nota máxima com um sorriso no rosto.- é sempre assim, a cada período eu sempre fico encrencada em alguma matéria das primeiras aulas. Não costumo faltar com frequência, mas tenho sempre um problema com o horário, ou porque a Joanna causou alguma confusão e acabou levando uma multa no trânsito, ou por conta da demora da Ally, ou alguma briga nos corredores e por aí vai. Eu nunca consigo chegar na hora certa e por isso faço visitas frequentes a diretoria e  que consequentemente faz meus pais me deixar de castigo ou cortar minha mesada, e logo hoje que eu tenho um que me encontrar com o Fernando para enfim chegar até o fim com ele não posso correr esse risco.

- Não será  necessário sujar suas mãos senhorita, eu...- antes que ele continuasse a porta é aberta novamente só que agora o barulho é muito maior, como se a porta fosse cair.- Mas o que foi isso? Quer quebrar de vez a porta?

     Micael Borges está lá parado com o skate numa mão e uma mochila na outra, os cabelos muito pretos bagunçados, com cara de perdido, como se ele devesse estar numa praça andando de skate e tivesse sido sugado por um buraco negro e aparatado logo ali sem querer.
      Ele fica olhando para o professor por um segundo, até que quando percebe que a turma toda o observa abre um sorriso exibido, ele é reconhecidamente um dos garotos mais encrenqueiros da escola, não que ele seja maldoso ou coisa assim, ele não é do tipo que pratica bullying ou que faz baderna nas aulas, mas com toda certeza ele  e seu melhor amigo Arthur são presença quase certa da diretoria, em qualquer um dos trotes do começo de ano, ou guerra de água no banheiro masculino. Eu tenho umas cinco aulas com ele e o vejo mais na detenção do que nas aulas.

- Foi mal aí Thonynho. - ele diz meio perdido, e isso basta para a sala toda começar a rir, aliás sempre que ele fala qualquer coisa nas aulas todo mundo ri.
- Pelo visto tem outro comediante por aqui não é, e pelo visto também eles tendem a chegar atrasados, - Anthony diz agora bravo de verdade, quase furioso eu diria - ou como no seu caso nem vir para aula e aparecer no  dia de atividade só para se escorar num dos colegas que realmente estuda e pegar nota. - ele fala ficando vermelho que nem um tomate.
-Eu não sou assim professor, pra o senhor ver, eu nem sabia que hoje tinha atividade.- Micael diz se fazendo de inocente, e a turma ri mais ainda.
- Já chega! - Anthony grita e da um susto em todo mundo.
- É melhor você calar a boca ou vai ferrar nós dois. - falo baixo para Micael, se ele quer fazer graça tudo bem, mas eu não quero me ferrar e ficar sem nota. Se bem que assim como ele eu também não fazia ideia que hoje ia ter atividade.
-Relaxa, - ele diz só pra mim também ainda sorrindo enquanto Anthony começa a fazer um discurso para a turma toda sobre desrespeito com os professores - eu só tô tirando uma com o carequinha aí, e eu já fiz a recuperação dele, é bem mas fácil do que esse troço de dissecar pererecas.

Reviro os olhos. Agora eu entendo porque a Joanna cisma tanto com esse menino, ela vive chamando ele de idiota, e isso não é de hoje, desde que a mãe dele passou a trabalhar na casa da Sophia e a gente passou a conviver mais com ele a Joanna não deixa passar nada que ele faz e não poupa xingamentos.

- Bom, diferente de você não estou nem um pouco afim de fazer recuperação, muito menos de ir para a secretaria. Já que não passo o dia "puxando um baseado" e andando de skate por aí, tenho mais o que fazer. - falo irritada, e Anthony ao fundo não para com o discurso relembrando o quanto ele sofre com "condições de trabalho deploráveis" e "alunos malcriados"
- Eita, pera lá também né - ele diz, com tom de falso ofendimento ainda sorrindo, o que me irrita um pouco - um cidadão de bem não tem o direito de apreciar as maravilhas de uma vida livre de preocupações sem ser julgado. - ele levanta os braços como quem se rende - E sendo sincero, você pode ser bem popular, garota da capa, e suas amigas as rainhas do baile e tal, mas não deve tá com uma agenda tão lotada assim, além disso não é como se você nunca fosse para a detenção, sempre te vejo por lá. - ele diz e não é bem uma mentira.

-Não acho que você...- antes que eu responda a altura, sou interrompida pelo professor Anthony.

 -... Lua Maria Kingston Blanco e senhor Micael Leandro de Farias Borges, pois bem, os dois vão servi de exemplo. - todo mundo olha para a gente com olhos assustados, percebo que ele deu um sermão e tanto para a turma por nossa causa. -
-Sempre soube que eu era um exemplo de garoto, -Micael diz - cadê os aplausos pessoal. - algumas pessoas tenta disfarçar uma risadinha e eu até tenho vontade de rir mas mordo os lábios o mais forte que posso quando olho para o rosto em chamas do professor.

- QUIETO! - ele frita ainda mais alto que antes, e posso ouvir Micael tentando conter uma risada, pelo visto nada abala o humor dele, mas eu já estou farta e pelo visto vai piorar por que vou acabar me ferrando junto com o Senhor Engraçadinho - Como eu já disse, vou usá-los como exemplo,- ele faz uma pausa esperando alguma tirada, mas eu não falo nada e graças a Deus Micael também não, e percebo que pela expressão dele ele está se esforçando muito. Anthony continua - do que não vai ser tolerado na minha aula. A partir de hoje vai ser a assim, atrasos, faltas frequentes, baderna e GRACINHAS não serão mais toleradas. Os dois estão expulsos da mina turma.
- Como assim? - digo incrédula. Não pensei que chegaria a esse ponto.
- Exatamente o que ouviu mocinha, expulsos vão direto para secretaria procurar outra turma se quer realmente se formar ano que vem, porque na minha turma vocês não ficam mais. - ele diz com uma expressão de realização, depois de perceber que conseguiu deixar todo mundo chocado.
Olho para Micael em busca de apoio moral, mas ele continua com a mesma expressão de perdido, como se nada demais tivesse acontecendo para alterar o humor dele.
- Agora seria uma ótima hora a para você dizer alguma coisa. - falo para Micael.
-Bom, tô vazando então, valeu Thony, é "nois" gordo.- ele fala acenando para um garoto cujo apelido é gordo, e depois faz uma reverência para a turma que começa a rir de vez. E eu fico lá paralisada. "Esse garoto é um baita de um idiota" ouço a voz de Joanna na minha mente. "Adora banca o palhaço, um inútil." Não podia concordar mais com ela nesse momento.
Olho para o professor, com um risinho contente no canto da boca.
-Acho melhor você ir com o garoto Lua Maria. - ele diz.
-Prefiro só pegar a minha declaração de ausência e voltar depois para a recuperação se não se importa. - digo torcendo para que se eu persistir ele mude de ideia.
- Já tomei minha decisão... - ele começa, mas eu o interrompo.
-Posso ser bem insistente quando quero. -digo.
- Chega disso, quero terminar a atividade para ir embora. - Pérola Farias, uma garota que me odeia desde de que nos conhecemos, a razão eu não sei, ou não lembro, mas ela de fato me odeia, enquanto para mim ela é completamente insignificante.
- A esquina pode esperar Pérola tem cliente o dia inteiro, a conversa é com o professor.- a turma faz um huuuu, e o professor me olha um pouco chocado, é até cômico.
- Não tem mais conversa. - Anthony diz depressa tentando mudar o rumo da situação. - Mantenho minha decisão.
- Ouviu vadia pode ir, deixa quem realmente vem pra escola para estudar aqui. - Pérola fala, certeza que ela está pulando de alegria por dentro o que só me deixa com mais raiva, o professor tenta falar mais eu sou mais rápida.
-Não vai precisar dissecar sapo para onde você vai, o máximo que vai precisar saber é como colocar uma camisinha. - saio deixando a turma numa bagunça só, consigo ouvir algumas pessoas gritando "tá cobrando quanto Pérola" , "sacanagem tirar a Lua, logo a mais gostosinha" e outras besteiras, a maioria das pessoas daquela turma gostam de mim, ou gostam de quem acham que sou, todo mundo me conhece por causa da Joanna e então acabam me bajulando para poder ficar próximo da gente, e alguns realmente me acham "descolada" e todas essas besteiras, mas mesmo eles pedindo o professor manteve a sua palavra.

Essa eu pedi, mas não posso sair por baixo, então segui em direção a diretoria.








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