17 de Maio 10:30 da manhã

Depois de ser liberada por Sheila da enfermaria, com o pescoço lambuzado de pomada e com o gosto ruim do analgésico ainda na boca decido seguir para a aula de Educação Física, mesmo tendo sido   liberada por Sheila para ir para casa.
    Eu ainda sentia dor na garganta e um pouco tonta, mas nada me faria ir para casa. A aula de Educação Física é a única que nós quatro fazíamos juntas, e eu estava precisando muito conversar com as minhas amigas, para se quer pensar em sair da escola.
         
          Depois do que Arthur deduziu durante nossa conversa na enfermaria, a dor física não era a que mais me incomodava, e sim o aperto no peito que eu sentia. Eu namorava com Fernando a apenas seis meses, mas mesmo assim nós já tínhamos tanta intimidade e confiança um pelo outro, ou ao menos eu achava que tínhamos, já que os últimos acontecimentos me fizeram mudar de ideia por completo. "Como ele pode mentir para mim, assim tão descaradamente?", eu pensei, "Só me achando muito burra para mentir para mim, e pensar que eu não descobriria.", mas na verdade se não fosse pela implicância de Arthur durante a nossa conversa eu nunca teria me tocado de um fato tão simples por confiar cegamente no Fernando. E me pergunto quantas vezes ele não já mentiu para mim dessa forma, ele já se sustentou na minha paixão por ele que me cegava e me enrolou dessa forma tão descarada.
Milhares de coisas passavam pela minha cabeça como um turbilhão: por que ele tinha mentido? E o que ele tinha ido fazer que precisou mentir? Ele tem outra?
Tive que fazer um esforço enorme para não ir procurar por ele, ou simplesmente ligara para ele e terminar tudo. Até a possibilidade de terminar com ele por mensagem passou pela minha cabeça, mas me contive e fui em direção ao meu armário pegar a minha mochila com o uniforme de educação física.

- Lua Maria! - uma garota que reconheço como uma das novatas me chama quando chego ao meu armário - Até que enfim te achei. Tentei perguntar onde você estava para aquele menino bonito - ela diz corando - com fama de bad boy, mas ele não parece ser muito educado, depois perguntei para o amigo dele, o moreno alto que saiu com você do grêmio, mas ele só riu da grosseria que o amigo tinha dito então foi embora com ele e a garota que surtou com você. - ela fala tudo isso muito rápido e eu até tento falar algo mas ela simplesmente continua - Carla, não é? Ela parecia bem alterada, eu segui eles e os escutei falando que só a levariam na enfermaria quando você saísse de lá. Então eu fui na enfermaria atrás de você, mas a enfermeira mal humorada disse que você  tinha acabado de sair de lá e iria para casa, mas eu fui na saída e não te vi então voltei - ela diz sorridente - e aqui estamos nós.

-  Ok - digo esperando que ela me atrapalhe pela décima vez, mas ela só me olha ainda sorridente - parece que você viveu uma grande aventura a minha procura, mas o que você quer afinal?
- Ah sim, eu já ia esquecendo. - ela diz então mexe em seu carrinho, só agora percebo que ela estava com ele. É um carrinho vermelho cheio de presentes do Dia do Cupido, ela deve ser uma das entregadoras.
- Aqui está! - ela diz animada tirando uma cesta cheia de cartas e caixinhas com meu nome  do carrinho. - Tem mais para você lá o no grêmio, mas não eu tinha tanto espaço no carrinho.

- Olha... - digo tentando não ser grossa com ela, mas era quase impossível. Eu estava tão chateada com o Fernando e com o quanto aquele dia estava ficando cada vez pior que só de olhar para aquela cesta cheia de presentes e cartões que em maior parte vinham de pessoas que só falavam comigo por falsidade, eu tive que usar de toda minha educação para não simplesmente mandar ela enfiar aquela cesta num lugar bastante impróprio. - deixa as minhas cestas no grêmio que eu passo lá depois e eu mesma pego.
- Eh... mas - ela diz enquanto eu tento abrir meu armário, que como sempre está emperrado. O que só me deixa mais irritada - acho que não posso deixar lá. Juliana me pediu para entregar um a um. Eles estão tentando esvaziar o grêmio... Além disso - ela acrescenta quando percebe que eu finjo não ouvir, ainda concentrada em meu armário - Juliana fez questão que eu entregasse o seu pessoalmente, ela até mandou esse bilhete e pediu que você lesse assim que eu fizesse a entrega.

Quando ouço aquilo meu sangue começa a borbulhar. Depois de Pérola e Carla, eu pensei que a minha cota de garota insuportável enchendo o meu saco tinha sido cumprida, ao menos por hoje. O meu problema com Juliana era o mesmo de sempre: ela não foi com a minha cara, eu não fui com a dela, nossas melhores amigas se odeiam e isso basta pra que nos tornemos inimigas.
 Pego o bilhete das mãos da menina que eu não sei o nome, o envelope é branco com decorações floridas como os que todos estão recebendo do dia do cupido. E na parte da frente tem escrito com letras garrafais em vermelho "Para Luinha, IMPORTANTE". O "Luinha" escrita ali já bastou para que eu todas as tentativas de me manter educada, mesmo com tanta raiva dentro mim, falhassem de vez.
- Fala para a Juju - disse com a voz mais controlada que eu tinha, mas mesmo assim soou como uma ameaça de morte - que se ela quiser me dizer algo que venha pessoalmente, e não se escondendo atrás de bilhetinhos.
- Eu não acho que deva falar isso para ela. - a novata diz com um olhar assutado pelo modo com que eu falei aquilo.

Devolvi o bilhete a ela e peguei minha mochila com o uniforme de esporte, fechei a porta do armário com força fazendo boa parte das pessoas que estavam no corredor nos olhar, mas já não me importava, estava irritada demais com aquele dia para me importar com qualquer coisa e me virei indo embora.
- E a cesta? - a novata gritou enquanto eu andava em direção ao pátio.
       Nem pensei duas vezes, voltei para onde ela estava parada com a cesta em mãos, agora sorridente achando que havia me convencido a ficar com a cesta, só quando me olhou nos olhos seu sorriso se desfez em uma fração de segundos. Peguei a cesta das mãos dela, sem o mínimo de gentileza e fui em direção ao lixeiro mais próximo e simplesmente arremessei a cesta lá dentro. Pude ver de canto de olho que estavam todos me olhando chocados, pude ouvir algumas meninas que tinham algumas aulas comigo cochichar algo e dar risadinhas enquanto me olhavam, e não pude evitar, fui em direção à elas com a expressão mais calma que pude fazer e disse:
- Eu sei que estão loucas para pular na lixeira e pegar os meus restos, mas deveriam ao menos tentar disfarçar.
 - Não Lua, não estávamos falando de você... - Sabrina uma garota que vivia me cercando para tentar ser minha amiga tenta se explicar, e as suas amigas acenam com a cabeça concordando com ela, mas eu a interrompo.
- Se quiser fazer faz logo, antes que joguem algo mais nojento na lixeira - digo para ela e depois falo alto olhando para todos no corredor que ainda olham para mim - JÁ DISSE PARA ELAS E VOU DIZER PARA VOCÊS, SE QUISEREM PEGAR OS MEUS RESTOS PODEM IR. SE EU JOGUEI LÁ É PORQUE NÃO VOU QUERER MAIS.

A novata ainda estava lá parada e com uma expressão de espanto. As pessoas do corredor pararam de me encarar, o que me fez sentir mais calma, mesmo não sendo tão popular quanto Joanna eu de certa forma eu tenho algum tipo de influencia sobre as pessoas da escola. Ainda conseguia ouvir alguns sussurros com o meu nome, mas os  ignorei e fui em direção a novata ainda sem nome novamente.

- Eu já entendi... - ela começou quando me aproximei, parecia que ela ia fugir dali a qualquer momento, mas eu a segurei pelo braço. Depois desse piti todo no corredor eu tinha uma dúvida em mente e precisava que ela me tirasse, já que só pelos poucos segundos que passei com ela já percebi o quão manipulável ela pode ser.
- Eh... Novata - eu digo apertando de leve o braço dela, que agora me olha com os olhos arregalados.
- A... Amanda - ela diz nervosa - meu nome é Amanda.
- Então, Amanda - digo a soltando e abrindo um sorriso de leve para que ela se acalme - você disse que Arthur e Micael queriam levar Carla a enfermaria. - ela acena com a cabeça confirmando - Ok, mas ela estava bem, mesmo que estivesse nervosa Arthur roubou remédio para dar a ela. Porque ela precisaria ir ver a enfermeira?

- Você não soube? - ela pergunta, já calma e com um sorriso de quem vai contar a melhor fofoca do ano no rosto.
- Soube do que? - digo apressada.
- Sua amiga Joanna acabou com Carla lá no pátio. - ela fala animada mexendo no bilhete de Juliana que ainda estava em suas mãos - Eu não vi a briga pois estava no grêmio, mas pelo que eu soube Lucas Ollioti um dos garotos que presenciou a sua briga com a Carla tem aula de Matemática com Joanna, ele comentou com ela durante a aula, e ela saiu no meio da explicação e foi atrás de você, só que ela acabou encontrando Carla primeiro, para o azar dela. Pelo que me disseram ela nem esperou Carla falar nada, já foi logo dando um tapa na cara dela, e por aí vai. Teve puxão de cabelo, chute, arranhão e tudo. - ela fala tudo isso muito rápido, como um narrador de UFC e eu fico perplexa, eu devia ter previsto isso. Era óbvio que assim que Ally ou Joanna soubessem de algo elas iriam querer se vingar, elas não são tão calmas quanto eu ou Sophia e seguem a risca a o tal ditado "olho por olho, dente por dente".

- Bom, resumindo - Amanda continua - a Carla apanhou mais que bateu, e no fim das contas todos ficaram do lada da Joanna, já que todo mundo adora ela, também ficaria do lado dela, já que vamos combinar: quem é que gosta da Carla? Enfim, quando o monitor veio ver o que estava acontecendo todo mundo inventou que foi a Carla quem começou a briga e ela levou uma suspensão pesada na hora. Mas ela estava bem machucada e só o lindo do Thur - ela diz sorridente - e o Mica quiseram levar ela para enfermaria...

Dou as costas para ela antes mesmo dela terminar de contar a história, se eu deixasse ela iria ficar ali me contando os detalhes por horas a fio, e depois de saber de tudo isso eu preciso mais do que nunca falar com Joanna. Tudo bem que eu estava com raiva da Carla, mas não havia necessidade dela ir lá e espancar a garota, além do que eu me sinto de certa forma culpada por tudo isso, já que fui eu quem expus essa fofoca sobre a mãe dela, e causei tudo isso. Se fosse o contrário, se fosse Carla quem tivesse tocado num assunto tão constrangedor quanto esse sobre a minha mãe eu também teria tentado esganar ela ou feito ainda pior.

Ando o mais rápido que posso em direção a quadra, e quase nem vejo nada nem ninguém ao meu redor, até que acabo trombando bem de frente com alguém no corredor, foi tão forte que eu acabo caindo.
- Eita, tá cega? -  eu digo irritada.
- Me desculpa por favor! - ouço uma voz feminina tão baixa que mal consigo ouvir, e a reconheço imediatamente. Melanie Fronckowiack se levanta de pressa e estira a mão para me ajudar, mas eu ignoro a sua mão e me levanto sozinha - Eu não queria te derrubar. Desculpa, desculpa... - ela diz com voz chorosa.
- Tá tudo bem Luinha? - Luan o melhor amigo de Fernando vem na minha direção quando me ver levantando.
- Estou ótima, só fui atingida por um trem desgovernado. - digo sem consegui disfarçar minha irritação - Você sabe do Fernando?
- Ehh... - ele diz sem jeito me olhando nervoso - ele deve está em aula.
- Deve? - pergunto tão alto que quase sai como um grito - Vocês dois tem exatamente o mesmo horário de aula e você me diz que ele "Deve está em aula"?
Ele fica mudo por alguns segundos, mexe no cabelo nervoso e então desvia olhar que agora se foca em Melanie. - Não sabia que vocês eram amigas. - Luan finalmente diz claramente para mudar de assunto.
Volto minha atenção para Melanie que continua parada como uma estátua ao meu lado. Ela parece incomodada com a atenção que está recebendo. Melanie sempre foi a figura pálida no canto da sala a qual ninguém dá muita atenção, e mesmo quando nós eramos amigas durante boa parte da minha infância eu nunca consegui a decifrar direito. Ela sempre estava lá quieta, na dela, e mesmo quando Arthur e eu tentávamos puxar ela para brincadeira, tentar integrar ela ao grupo ela conseguia se esgueirar, estava sempre fugindo da vista de todos, sempre se escondendo. E por causa disto mesmo nunca tendo deixado de estudar com ela, depois que paramos de nos falar, depois de ter me tornado amiga de Sophia e consequentemente de Ally e Joanna, eu simplesmente esqueci da existência dela. E garanto que não sou a única, já que se perguntar a qualquer um no Thomas Jerfferson quem é Melanie Fronckowiak a resposta será muito provavelmente a mesma: quem é Melanie Fronckowiak?

- Perdeu alguma coisa aqui? - digo com rispidez. Faz anos que não falo com ela, e é até estranho dirigir palavras tão duras a alguém que antes costumava ser minha única e melhor amiga, mas não consigo evitar, além da raiva que estou sentindo por tudo que está acontecendo, tem também um pouco da máscara que preciso usar para manter a minha imagem, para ser quem todos esperam que eu seja. A Lua Maria Kingston Blanco de agora não é a mesma menininha idiota que enfrentava todos para defender a antiga amiga Melanie do bullying quando ela era chamada de baleia, orca ou qualquer outro apelido maldoso. Essa Lua ficou para trás, junto com qualquer laço que ela tinha com a Melanie. Essa Lua não sobreviveria ao ensino médio, seria caçoada, ridicularizada ou esquecida assim como Melanie.

- Não... - ela diz baixo, ela soa frágil como sempre, mas há algo mais em sua voz. - Desculpa por trombar com você - ela diz colocando uma mecha do seu cabelo preto por trás da orelha - mas foi até que bom... eu preciso falar com você!- ela diz finalmente, a timidez de antes ficou de lado e deu lugar a uma urgência em sua voz. Ela me olha nervosa e eu olho ao redor a procura de Luan que agora já está no fim do corredor andando apressado, ele sem dúvidas usou a Melanie para fugir das minhas perguntas sobre o Fernando.

- Você precisa falar comigo? - digo sem conseguir disfarçar a surpresa - Agora estou curiosa o que é que você - digo apontando para ela, e ela entendo o que quero dizer. - tem para falar de tão importante para falar comigo? - digo baixo tentando evitar ser ouvida quando percebo que bastante gente que passa pelo corredor olha surpreso para a gente. Não estamos em Glee, no Thomas Jerfferson não é nada usual haver interações entre pessoas de digamos "tribos" diferentes, mas estou curiosa demais para ligar para os olhares ao nosso redor,

- Não posso falar aqui. - ela diz ainda mias baixo também percebendo os olhares ao nosso redor, ela puxa mais ainda as mangas do moletom até que elas cubram as suas mãos, como se isso fosse a esconder dos olhares - É importante... - ela para pensativa - podemos nos encontrar mais tarde.

- Sim... - eu digo rápido. A primeira palavra que me veio a mente foi não, mas a urgência na voz dela e a forma como ela olha para os corredores nervosa, me diz que é algo importante. As mão puxando as mangas do moletom de forma nervosa, o boca se contorcendo como quando ela morde a parte de dentro das bochechas me lembram a Melanie gorducha e ansiosa da nossa infância, e mesmo a Lua antiga estando morta e enterrada ainda possuo um certo instinto de proteção.
- Ótimo - ela diz nervosa, parece não acreditar na minha resposta - nos encontre no Castelo Azul depois da aula. E tenta se cuidar... - Melanie fala e vai embora quase voando sem me dá nem um décimo para questionar.

Castelo Azul? Meu cérebro quase pifa, faz anos que não ouço essas palavras, nem ao menos me lembrava disso. Castelo Azul era o nosso esconderijo, meu, do Arthur e da Melanie quando criança. É uma casa abandonada dentro do condomínio onde a Melanie mora, e quando éramos crianças costumávamos ir brincar por lá. As lembranças me deixam tão tonta que levo alguns segundos para me tocar no que ela disse : "nos encontre lá". NOS, então não ela não estará só. Quando decido ir atrás dela perguntar quem mais estará lá sinto duas mãos na minha bunda, e nem preciso me virar para saber quem é.

- A bunda ou a vida? - Ally sussurra no meu ouvido tentando soar ameaçadora, mas sem consegui disfarçar a sua risada tão contagiante.
-  A bunda já é sua e se quiser a vida também, e tudo mais que você pedir. - digo brincando jogando a bunda mais para trás.
- Vixi - Ally diz largando a minha bunda e vindo me abraçar - eu sei que sou gostosa e sempre percebi seus olhares pra mim, mas não achei que o efeito fosse tanto ao ponto de te converte... - ela diz enquanto me abraça e  mesmo com tanta raiva eu não consigo conter o riso - tadinho do fernando.
- Me converter? - digo tentando fingir que não escutei o nome do Fernando.
- Sim, te converter ao sapabonde - ela diz meio que sarrando em mim, e então eu não consigo  mais controlar a risada. Estamos no meio do corredor agora lotada e qualquer um que não nos conhecesse e soubesse que eu tenho namorado (por enquanto eu ainda tenho) e Ally já se envolveu com metade dos garotos mais cobiçados da escola, acreditaria que somos duas lésbicas ninfomaníacas.
- Ok senhorita irresistível - digo me soltando dela, mal conseguindo falar  - é melhor irmos para o vestiário.
- Ih, já quer me levar pro banheiro pra se aproveitar de mim? - ela fala me fazendo rir ainda mais - Eu topo! - Ally diz dando pulinhos de alegria falsos, só pra me fazer rir.

E é por isso que eu a amo, depois de um dia tão conturbado como hoje Ally é a única que sem dúvidas consegue me fazer sorri com tanta facilidade, por um momento chego a esquecer tudo que aconteceu, esqueço a mentira do Fernando, as acusações do Arthur, a Carla descontrolada, a mina culpa por ter jogado a história da mão dela para todos verem, e o estranho alerta da Melanie. Tudo parece desaparecer e ser só mais um dia na escola com a minha melhor amiga fazendo as palhaçadas de sempre só pra me ver sorrir.
   - Podemos nos divertir depois, mas agora só quero me arrumar para a aula de Educação Física. - digo tentando ficar séria, a Ally percebe e se toca na hora que eu estou irritada e ela sabe o porquê pois responde logo em seguida.
    - Sabe o que eu mais amo na nossa amizade? - ela não me espera responde - Que nós somos como irmãs ciganas. Eu não tenho irmãs, mas sei que se tivesse é assim que eu seria. Se alguém se quer ousasse levantar a voz para a minha irmã esse ser estaria acabado. A Joanna é agressiva Luinha, mas ela é assim por que você não é e é por isso que a gente se da tão bem. A Sophia é doce e simpática, ela é a parte charmosa e delicada de nós, que só se altera quando percebe uma injustiça. - ela diz imitando o jeito de andar da Sopia, postura perfeita e sempre sorrindo - eu sou a louca pegadora que ama festas e que sempre dá trabalho porque bebe mais do que aguenta - ela diz apontando para o próprio rosto - você é a sonhadora, a garota que nos uniu, que sempre escolhe as músicas quando estamos no carro e que todo santo dia vai para a secretaria porque não consegue se manter long de encrenca, e a Joanna  - ela diz por fim - ela é um pouquinho de todas nós com doses de perigo e inconsequência. Brigar com ela por bater na Carla é como reclamar com o mar por causa das ondas, é como lutar contra a natureza.


Depois desse discurso eu não tenho mais argumentos. Não que a minha irritação tenha passado, mas não vai adiantar brigar com a Ally, pois ela sempre vai defender a Joanna. Tenho quase certeza que se ela tivesse encontrado com a Carla antes ela mesmo teria batido nela, e mesmo a Joanna não querendo me ouvir ela vai ter que escutar o que eu tenho a dizer.

Sem mais discursos seguimos de mãos dadas como sempre fazemos para o vestiário. Nesse momento eu pensava que os meus maiores problemas eram brigas de escola e namorados mentirosos, mal sabia eu que em apenas algumas horas dali em diante eu estaria morta e nada disso importaria mais, não para mim, não para o corpo gelado e morto que eu me tornaria.













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