17 de Maio Sexta - Feira 11:00 da manhã

- Eu ainda estou inteira Sophia! - eu respondo exasperada. Estávamos indo para a quadra de vôlei onde teríamos a aula de Educação Física, e pela trigésima vez seguida Sophia me perguntava se eu realmente queria fazer a aula, enquanto avaliava como uma médica o meu pescoço.
- Nós tinamos combinado de nos encontrar só no almoço Lua, você falou "te vejo mais tarde no refeitório", - ela repete o que eu disse tentando imitar a minha voz- não tem nada que está aqui. - Sophia insistia, enquanto Ally e Joanna apenas olhavam de mim para Sophia dando risadinhas.

- Eu sei o que eu disse Sophia, só que eu não quero ir embora! - falo tirando a mão dela da minha testa enquanto ela tenta ver se estou com febre.
-Mas... - ela tenta continuar, porém eu a interrompo.
-Pelo amor de Deus, eu não estou incapacitada. Não é como se eu nunca tivesse apanhado na vida Sophs, eu acho que eu posso aguentar uma aulinha de nada não acha? - digo e olho para as duas outras meninas como um pedido de ajuda, mas elas apenas levantam os braços rendidas e continuam a rir.
- Como é provar do próprio veneno Luinha? - Joanna pergunta pondo o braço por cima dos meus ombros.

- Do que você está falando? - digo irritada.
- Você é igualzinha a Sophia, vive dando ordens e questionando todo mundo. - Joanna fala sorrindo - E aí, é irritante ou não é?
- Não estou sendo irritante. Estou sendo precavida, - Sophia fala séria - vai que ela passa mal durante a aula! Tenho certeza que aquele professor não vai ser muito útil se a Lua tiver algum problema.

- Se ele consegui levantar para ver quem está passando mal já vai ser uma surpresa pra mim. - Ally bufa. O nosso professor de Educação Física Tales Albuquerque não é um grande é exemplo nem de físico nem de educação. Ele deve ter uns trinta anos, mas aparenta bem mais por conta da postura curvada, e a barriga de shop que fica ainda mais aparente por causa das blusas uns dois números menores do que ele deveria usar. E como Ally sempre se preocupou muito em se manter em forma ela nunca deixa de falar mal do físico do professor que deveria ser exemplo de boa forma, ou , ao menos ser menos sedentário, já que ele passa a aula inteira sentado dando ordens aos gritos.

- Se depender de mim ele pode continuar sentado, eu não vou passar mal, ter um ataque ou coisa do tipo. - digo rápido - Estou muito bem obrigada, e morrendo de vontade de extravasar minhas energias, e já que não posso sair pondo a escola a baixo, é melhor que eu faça isso me exercitando na aula.- digo por fim.
- Bom...- Sopia diz me avaliando de cima a baixo mais uma vez - você que sabe, mas se senti qualquer coisa avisa alguém tá? Não precisa se fazer de durona pra a gente. - ele termina e sorri de leve para mim, mesmo não concordando comigo.
- Não me faço de durona... - digo novamente me sentindo idiota. Odeio quando falam assim comigo, como se eu não fosse tão forte quanto Joanna ou Ally, como se eu tivesse que ser protegida por todo mundo o tempo todo.


- A Lua tá bem Sops - Ally disse distraída mexendo no shorts de malhação que usava - acho que o problema é com você e a sua hipocondria!
Eu riu para Ally concordando, Sophia sempre foi muito exagerada quando o assunto é saúde, um exemplo é que ela sempre falta aula quando está com cólica, ou com um resfriado qualquer. Ela sempre acha que é algo maior, uma doença crônica incurável ou algo do tipo.
Sophia não diz nada só mostra a língua para Ally como uma criança aborrecida, o que me faz rir ainda mais junto com Joanna.
- A Lulis é uma leoa Sophs - Joanna diz - está em perfeito estado aqui. Acho que a louca da Carla nem bagunçou um fio de cabelo da Lulis. Já sobre ela não podemos dizer o mesmo. - ela e Ally deram uma risadinha, mas eu só consegui para abruptamente e olhar feio para Joanna. Com todas as perguntas de Sophia e comentários de Ally sobre a briga com a Jhulie eu tinha até esquecido de um dos motivos o meu mau humor: a surra que a Joanna supostamente deu na Carla.

- O que foi Lua? - Joanna fala surpresa com a minha parada.
- Nossa, eu disse para você não comentar sobre nada disso Joanna! - Ally repreende Joanna.
- Vai dizer que você não faria o mesmo se a visse antes de mim? - Joanna cruza os braços questionando Ally e usando o tom que ela usa para se fazer de vítima, como se NÓS estivéssemos sendo injustas com ela.

- Não disse isso, - Ally diz revirando os olhos para a encenação de Joanna - só falei que a Lua não ia gostar nada de saber disso...
- EU ESTOU BEM AQUI, ESTÁ BEM? - grito surpreendendo as duas que agora me olham assutadas. Já é a terceira vez no dia em que sou tratada como incapaz pelas minhas amigas, o que me deixa com um misto de sensações : fico feliz por elas quererem me defender, porém irritada por ser tratada como criança.
- O.k. Lua, a gente não vai brigar por conta da cobra da Carla, não é? - Sophia diz tentando acalmar os ânimos como sempre.

- Pois é Lua, uma amiga de verdade estaria me agradecendo uma hora dessa por ter me arriscado para revidar... - Joanna começa novamente se fazendo vítima e injustiçada, mas nós três reviramos os olhos para a encenação dela.
- Não abusa Joh! - Sopia intervem de novo percebendo a minha irritação.
- Mas é verdade ué. - Joanna fala, agora deixando de lado o fingimento e demonstrando uma chateação real - Eu fiz tudo isso por você e no fim das contas saiu como "a errada da história" Lulis? Você acha mesmo que eu gosto de arrumar confusão, de agir como uma barraqueira e partir pra cima de alguém? Eu preferia não ter que descer a esse nível, mas eu fiz, e faria de novo por qualquer uma de vocês! - ela diz apontando para nós, e soa totalmente sincera o que faz parte da minha raiva ir embora.

- Af Joanna! - digo baixo agora - Só você pra consegui me fazer sentir mal por te repreender por uma coisa errada que VOCÊ fez. - ela ri convencida quando percebe que me venceu - Não sei onde aprendeu a ser tão persuasiva assim. Chega até a ser irritante!
- Pra caramba! - Ally concorda sorrindo.
- Nem eu sei. - Joanna diz - Acho que nasci para está sempre certa. - ela fala com tanta confiança que chego a acreditar que ela realmente acredita no que diz.
Nós quatro rimos por algum tempo depois do que ela diz, percebendo que o clima ficou melhor entre nós. É sempre assim, não importa o quanto somos e pensamos diferentes a nossa amizade prevalece sobre todas as coisas.

- Agora falando sério Joanna... - eu digo quando voltamos a andar.
- Não entendi o "falando sério", desde o começo eu estava sendo "falando sério". - Joanna faz aspas no ar enquanto fala.
- Se você diz. - digo para que ela pare de brincar e me deixe terminar. Ela se cala, mas parece irritada pois depois de tantos anos de amizade ela já sabe onde quero chegar - Você tem que entender que as coisas não se resolvem assim Joanna. Ela teve uma reação exagerada a algo que EU disse, de certa forma entendo o porque dela me bater...
Antes que eu pudesse continuar é a vez de Joanna e Ally pararem bruscamente. Estamos a uns três metros de onde a aula já está rolando, e de longe posso ver as meninas alongarem e o professor  dando ordens de sua cadeira.


- Você está de brincadeira né Lua? - Ally diz com olhos arregalados, como se o que eu acabei de falar fosse um enorme absurdo.
- É sério, eu me sinto culpad...
- Nem termine essa palavra Lua Maria - Joanna diz tapando a minha boca de forma exagerada. - o que deu em você? Ela te derrubou no chão e você bateu com a cabeça? - ela toca no meu cabelo por cima do rabo de cavalo como se procurasse por um galo.
- Só pode ter sido isso mesmo... - Ally fala.
- Gente, eu entendo o que a Lua diz. - Sophia fala em minha defesa, e me olha com cumplicidade, mas é interrompida de imediato por Joanna que a olha como se não a reconhecesse.

- Podem parar as duas! Não tem essa de culpa ou pena de ninguém. - ela fala me soltando - Não sei se esqueceram, mas foi a Carla que espalhou um monte de histórias ao meu respeito e toda a história com o namorado da Jhulie, que acabou com o meu namoro de mais de um ano com o Thiago, que denunciou a Ally para o pai dela contando sobre os garotos com que ela tinha ficado. - Ally acenava a cabeça concordando com o que Joanna dizia, elas duas tinham o mesmo olhar raivoso - Não sei se vocês lembram Lua, e Sophia - ela pronuncia os nossos nomes com mágoa na voz, soando sinceramente magoada por nós estarmos culpadas - que quando o pai da Ally ficou sabendo quase expulsou ela de casa.

Quando ela cita essa última parte é o bastante para eu me sentir bem de novo por ter jogado a história sobre a mãe da Carla no ventilador. Ela quase havia destruído a vida da Ally por simples inveja.

 A Ally sempre foi popular, mesmo antes de se tornar amiga de Joanna, principalmente entre os garotos. Eu lembro dela no ensino fundamental, ela foi a primeira garota a usar sutiã e veio dela a ideia de fazer jogos de verdade ou consequência com o pessoal da turma. Na época todo mundo achou o máximo, já que no auge dos nossos 11 anos poucos de nós haviam interagido com qualquer um do sexo oposto e poucas garotas eram como eu e tinham um melhor amigo menino, e mesmo nunca tendo beijado ou feito nada romântico com Arthur eu e Melanie eramos as únicas garotas da turma que interagia diretamente com um menino, o que todas consideravam estranho. Mas quando Allison levantou no intervalo com uma garrafa de refrigerante vazia e levou para o meio do pátio não levou nem cinco minutos para juntar um grande número de gente incluindo Joanna e meio mundo de garotos que queriam ali beijar pela primeira vez.

Daí em diante Ally nunca deixou de ser popular. E além da amizade de Joanna ela conquistou a atenção de vários garotos. Ela já namorou, ficou ou teve um rolo com a maioria dos garotos mais cobiçados do Tomas Jefferson e da cidade, além é claro de outros casos fora durante as nossas viagens de férias. No momento o mais novo namorado de Ally é um universitário que estuda na faculdade da cidade. Eles se veem nos fins de semana e ela está de fato feliz como nenhum a fez antes. Ally nunca apresentou ele para nós, mas sempre fala dele, mesmo que faça o maior mistério quando perguntamos sobre quem é ou sobre a família dele. Mas se o plano de Carla tivesse funcionado, a história seria outra.

Como vivemos numa cidade relativamente pequena a reputação é algo essencial, e Carla quase destruiu a de Ally. Foi no ano passado, estávamos no fim do segundo bimestre quando Ally começou a sair com Luan Santana o melhor amigo do meu namorado, Fernando e como todo mundo já está habituado aos diversos rolos dela ninguém ficou surpreso, apenas uma pessoa: Carla Diaz. Não tinha como ninguém saber, pois Luan assim como qualquer pessoa do Tomas Jefferson nunca deu muita bola para Carla, mas segundo ela, eles dois haviam ficado uma vez, e mesmo tendo sido há muto tempo ela ainda se sentia apegada a ele.

Ela fez questão de deixar isso claro para a Ally, só que como Carla havia espalhado toda a história sobre a traição que Joanna e o namorado de Jhulie haviam feito, e mesmo já tendo se vingado dela com a armação do emprego falso, Ally fez questão de continuar o namoro com Luan, mesmo não gostando nem um pouco dele, só para tripudiar em Carla ainda mais.

E pelo visto conseguiu já que Carla ficou ainda mais irritada e humilhada e queria porque queria ter o Luan "de volta" sendo que para ele, ela não tinha passado de uma ficada ruim. Então apar se vingar Carla agiu, ela sabia o ponto fraco de Ally: o pai dela, que é policial, e um religioso fervoroso que vai à igreja todo dia e tinha muito orgulho da sua fila única que tinha sido aprovada em uma escola de referência como o Thomas Jefferson. Nem ele nem a mãe de Ally sabiam dos namoros dela, nem das roupas que ela costuma usar já que na época ela escondia isso e se trocava na escola. Mas depois que Carla de um jeito de enviar fotos e uma lista dos garotos que ela sabia que Ally tinha ficado. O pai de Ally, Sr. Augusto´Jackson ficou possesso e chegou a tentar bater nela, mas eu e Joanna estávamos lá e defendemos ela, ligamos para Luan e ele apartou a briga, e no fim das contas ele acabou expulsando Ally de casa.

Ela chegou a passar dois meses na casa de Sophia, já que de nós quatro ela é a que tem mais condição financeira e uma casa enorme com tantos quartos que os pais dela nem notavam a presença da Ally direito. Foi uma época horrível, eu nunca vi a Allison tão triste, logo ela que é sempe tão animada e feliz. Depois disso ela se tornou cada vez mais vingativa. Só voltou para casa quando o pai dela se arrependeu e ameaçou entrar na justiça para levá-la de volta, mas desde então a relação dos dois não é mais a mesma. Ele tem vigiado ela ainda mais de perto e eles vivem brigando.

Meus olhos ficam cheios de água só de lembrar disso, Joanna conseguiu reacender a raiva que eu sinto por Carla e quando olha apara Ally noto que ela também está tentando conter as lágrimas.

- Vem cá! - digo indo abraçar Ally. Ela retribui o abraço e Sophia se junta a nós também chorosa e Joanna continua a falar:
- Acho que não preciso continuar a listar as razões pela qual a Carla não merece a nossa pena. - ela diz determinada enquanto olha o nosso abraço em grupo, mas não se junta a nós. Joanna não gosta de demonstrar fraqueza então ela só fica nos observando de perto.
- Muito pelo contrário Lua, - Ally diz se soltando de mim e Sophia - e eu já disse isso a Lua ainda hoje: ela merece tudo de pior. Não sei a razão pela qual você tocou no assunto sobre a mãe dela Lulis, mas uma hora ou outra eu mesmo faria isso, pois toda vez que chego em casa e meu pai me trata como se eu fosse uma decepção eu lembro da cara da Carla e de como ela me humilhou e me transformou numa puta para a pessoa que eu mais admirava nesse mundo: meu pai.

Na voz da Ally há uma tristeza tão legítima que Sophia não consegue se conter e começa a chorar, e fico com o estomago revirando me sentindo mal por Ally. Um silêncio pesado toma conta até que Joanna pega ela e Sophia pelo braço, Ally segura no meu e seguimos as quatro juntas de braços dados para a aula sem dizer uma única palavra, apenas atualizando o status de ódio que sentimos pela Carla.

Quando finalmente chegamos na quadra o aquecimento já havia acabado, e os times estavam sendo divididos. Tentamos seguir sem ser notadas para nos misturar com as meninas que falavam alto enquanto escolhiam quem fica com quem, mas professor Tales nos vê de sua cadeira e grita nos chamado fazendo questão de mostrar a sua irritação.
- Devo perguntar o porque do atraso, ou apenas me ater a colocar a falta? - ele diz se remexendo na cadeira de metal, com a caderneta de chamada em mãos.
- Nem um nem outro.- Joanna diz sorridente - Só colocar a gente em um dos times já está de bom tamanho.

- De preferência todas nós no mesmo time, - Sophia completa - detesto ter que jogar contra as meninas.
- Mas veja - Tales diz enfezado - as senhoritas chegam atrasadas e ainda se veem no direito de fazer exigências? Essa é boa. - ele bufa e começa a mexer nos bolsos a procura de uma caneta.
Ally revira os olhos irritada quando percebe que ele está entalado na cadeira e não consegue mexer nos bolsos traseiros.
- Exigindo? Eu não, eu estava apenas dando uma dica. Nós rendemos muito mais jogando juntas pois temos uma sincronia maior, já que somos próximas. E isso ajuda na ora dos lances. - Sophia diz convencida como se soubesse do que está falando, mas de nós quatro ela é a que menos entende de
esportes. Tenho que fazer um esforço para não ri da pose de técnica dela.

- Pensei que o técnico aqui fosse eu, senhorita Abrahão - ele diz ainda tentado desentalar da cadeira - e não vou cair na conversa de vocês. Toda aula é sempre uma desculpa diferente. Admito que é uma mais criativa que a outra, mas...
- Ao menos a gente tenta inovar, né não? - Joanna diz tentando fazer ele ri, mas ele se irrita ainda mais. E eu começo achar que essa vai ser a segunda matéria da qual vou ser expulsa no mesmo dia por causa de piadinhas.
- Tentam sim, Joanna. Pena que não é isso que vai livrar vocês de um castigo. - ele diz e só então me nota - Ah, e a senhorita Lua Maria, está ainda mais encrencada, já que faz parte do time de handebol e nem se da o trabalho de aparecer nos treinos...

- Fiquei sem tempo esses dias. - interrompo ele - As provas estão chegando, e como o senhor sabe nem no time vou poder continuar se não me organizar com as notas. Estou fazendo aulas extras... - minto, na verdade venho tentando ser expulsa do time já faz um tempo. Mesmo gostando muito de handebol os treinos acabam tomando muito tempo, e quando entrei no time pensei que me ajudaria com os professores, como ocorre com os atletas de futebol (como com Fernando por exemplo) que fazem as provas depois e que tem tempo extra para entregar os trabalhos.

 Porém parece que handebol não é visto com tanta importância quanto futebol pelo diretor, e nós não temos nenhum privilégio. Na verdade eu não ligo de fato para não ter esses privilégios, já que sabia disso desde que entrei no time. O problema de verdade é que Joanna acha isso uma grande besteira. Ela sempre diz que é uma baita perda de tempo, já que tenho que vim para os treinos nos sábados, e as vezes tem jogo em dia de festa ou quando marcamos de sair. Nos últimos meses ela tem feito um esforço enorme para me tirar do time e sempre que pode faz uma piada sobre o time, isso acabou me desencorajando e agora mais do que nunca estou disposta a largar o time.

Eu sei que parece idiotice abandonar algo que gosto tanto só por causa da opinião de Joanna, mas como minha melhor amiga a aprovação dela é uma das coisas mais importantes para mim. Me sinto mal pelas outras jogadoras, pois me sinto ligada ao time, mas se tiver que escolher entre ficar no time e continuar sendo amiga da Joanna a escolha já está feita: escolho a Joanna.

- Aulas extras, hum. - ele balança a cabeça em negativa - Vocês realmente me acham um idiota.
- Temos certeza. - Ally sussurra, e nós rimos. Pensamos que ia passar despercebido, já que a há sons de conversas por todos os lados, mas como dizem "nada é tão ruim que não possa piorar" e esse dia como eu já percebi tende a piorar em escalas nunca antes vistas: Tales ouvi que Ally disse algo.
- Falou algo senhorita Jackson? - ele pergunta fervendo de raiva. A cadeira de metal range com o movimento brusco que ele faz para ficar de pé, é até engraçado ver ele tetando ser ameaçador.
- Apenas que quero ir participar da aula. - Ally mente.
- Falou tudo isso nessa tempinho de nada? Parece que tem um talento. Já pensou em ser rapper? - ele pergunta e ri da própria piada, mas Joanna intervem rapidamente.

- O senhor é realmente muito engraçado. Bem que Dalia me falou desse seu lado mais cômico. - ele gela com as palavras de Joanna que dá um sorriso para ele se fazendo de inocente - Bom, eu sei que atrasamos, estávamos resolvendo alguns assuntos extracurriculares, e não temos direito algum de exigir que o senhor nos aceite na aula. é melhor irmos então... - ela faz uma pausa estratégia  e nós olhamos para ela espantadas. Joanna nunca aceita a derrota ainda mais tão facilmente - Ah, aqui, eu tenho uma caneta - ela tira uma caneta do bolso - pode marcar nossa falta. - até o professor parece espantado com a boa vontade de Joanna, assim como todo mundo ele sabe o quão insistente ela é, então ele apenas espera ela continuar -   Nós vamos para a diretoria se quiser, é melhor mesmo a gente falar com o diretor, é sempre bom repassar algumas informações.

- Que seriam? - ele pergunta com cara de espanto, ainda não entendendo onde ela quer chegar com isso.
- Coisas normais, do cotidiano da escola, sabe? - Joanna diz ainda oferecendo a caneta a ele - Eu soube que o diretor Araripe estava realmente muito preocupado ultimamente com o que acontece nas aulas, nos corredores, e até fora do círculo escolar.
- Ele sempre está. É o diretor, precisa está atento em tudo. - Tales fala cansado do joguinho de Joanna, mas ainda não pega a caneta.
- É, mas acho que fica mais ainda quando chega nessa época do ano. época dos repasses de verbas. Quão bom seria ganhar um bônus bem no meio do ano? Todo mundo gosta muito do senhor, é um bom candidato a ganhar por votos dos alunos. - Joanna diz.


- É sou mesmo bem querido pelos alunos! A maioria adora a minha aula.  Sou muito bom, para quem merece é claro. - ele diz convencido e pega a caneta das mãos de Joanna com um pouco de agressividade.
- É percebo que o senhor sempre deixa a turma bem... livre... se sentem em casa. - Sophia fala apontando para a turma que deveria está jogando vôlei, mas está toda espalhada em pequenos grupos conversando.
- Minha didática não é da conta do diretor - ele diz finalmente entendendo onde Sophia e Joanna queriam chegar - e pode perguntar para a senhorita Blanco por exemplo. - ele diz nervoso.
- Eu? - pergunto surpresa por ele me citar, estava distraída tentando entender o que Joanna estava fazendo.


- Sim você. Sou o técnico do time de handebol e você sabe o quanto sou esforçado com o time. - ele fala me olhando como se quisesse que eu concordasse, mas fico parada apenas o encarando. Não sei o que seria pior: contrariar ele ou Joanna.
- Bom, se o senhor diz. Agora pode me devolver a caneta? - Joanna fala calmamente, mas consigo percebe que está feliz por consegui perturbar ele. - Preciso dela para assinar o cartão do... estacionamento. - a última palavra em especial tem o mesmo efeito de um tapa na cara no rosto do professor.

Ele devolve a caneta me observando nervoso, e então nós começamos a andar bem devagar até a saída do ginásio.
- O que é que deu em você Joanna? A gente vai simplesmente sair assim? Sem fazer nada?... - Ally fala muito baixo, enquanto caminhamos devagar feito lesmas até a saída.

- Se você não percebeu ela já fez. - digo também baixo - eu só não sei o que, mas fez.
Joanna e Sophia trocam um olhar cúmplice e sorriem de leve. Antes de alcançarmos a porta, ela é aberta por fora por Vicente. Ele é o meu professor favorito, e além de ser um ótimo professor de literatura ele parece ser muito mais capaz de lecionar Educação Física também. Já que diferente de Tales que é barrigudo e desleixado, Vicente tem um físico atlético e alto, anda sempre arrumado e não é nem de perto tão preguiçoso quanto Tales que passa aula inteira sentado. Além é claro de ser o professor mais simpático do Thomas Jefferson, e arrancar suspiros de todas as alunas já que por volta de seus 30 anos o professor tem uma beleza de dar inveja.

- Bom dia meninas! - ele diz sorridente quando nos vê. E posso está enganada, mas ele lança um olhar mais demorado para uma de nós em especial: Allison.
- Bom dia professor! - dizemos quase que ao mesmo tempo.
- Vim da um aviso para a turma do Tales, ele faltou? - ele diz sorridente como sempre. Essa é a diferença entre professores que transam e os que não, os primeiros (Vicente) são pacientes e educados, e os segundos ( Tales, Anthony) buscam o prazer em ferrar com a vida dos alunos.
- Ele está logo ali. - Sophia aponta.
- Bom, vamos... - Joanna diz e nós passamos por Vicente que olha surpreso para nós, enquanto saímos.
Mas antes que nós quatro cruzássemos de fato a porta, o plano de Joanna chega ao efeito desejado por ela.
- Senhorita Levesque... - Tales grita - Joanna Lesvesque - ele grita novamente e só então nós quatro viramos, e eu mordo a bochecha para conter o riso. "E mais uma vez Joanna consegue o que quer" eu penso.
- Se juntem a algum time - ele diz nos encarando, a irritação nítida na sua face vermelha de raiva.

- O meu tem vaga - Felícia diz ouvindo a conversa.
- Ótimo, o senhor é de fato o melhor professor do Tomas Jefferson! - Joanna fala sem consegui disfarça tão bem quanto eu sua alegria. Ela parece uma criança que ganhou o doce antes do jantar. Dá até pulinhos e vai em direção a Tales, mas ele não retribui o seus sorrisos, na verdade ele parece está a ponto de esganar Joanna assim como Carla fez comigo.
- Valeu profes! - Sophia fala também indo abraçar ele.
Eu e Ally nos entreolhamos sem entender.
- Me lembra de perguntar pra Joanna como ela fez isso - Ally diz para mim - porque essa eu não entendi.
- Eu muito menos. - digo indo em direção ao time de Felícia.

Só então é que de fato começamos a aula. Depois da insinuação de Sophia sobre a falta de didática e preguiça do professor ele passa a aula inteira em pé sendo bastante rigoroso com a partida e gritando até ficar vermelho a cada saque errado.
 - Aí eu acho que vou morrer. - Bia fala cansada quando nós sentamos para trocar com as reservas.
- O que é que deu nele gente? - outra garota fala - Ele só ficava sentado reclamando, agora deu pra gritar feito o técnico da seleção! Se continuar assim daqui para o fim do ano eu vou definhar! - ela diz sem ar.

- Tô morta, toda nojenta, e sem ar! - Sophia diz chorosa sentando do meu lado. Ela não é chegada em atividades físicas e nesse quesito ela realmente é uma patricinha, ela é péssima. Erra todos os saques e bloqueios e foi quem mais levou reclamação do professor.
- Está satisfeita agora? - eu pergunto, respirando normalmente. Já estou acostumada com os gritos de Tales no treino do handebol, e como pratico esse esporte não me canso tão fácil no vôlei, mesmo não sendo tão boa já que sou baixinha.

- Com o que? - Sophia diz ainda sem ar e quase chorando.
- Foi você que provocou ele, agora tem que aguentar! - digo sorrindo.
- Aff Lua - ela diz jogando água da garrafa dela em mim - você nem pra ter pena de mim!
- Você sabe que eu te amo! - digo jogando água nela também.
Ela sorri de leve e mostra a língua para mim como ela sempre faz, o que a deixa parecida com uma criancinha.

Depois de jogar mais uma vez eu sou mandada de novo para o banco de reserva para a troca, e enquanto eu assisto as meninas jogar observo do outro lado da quadra Vicente sentado na cadeira onde Tales costuma ficar, ele está com o semblante diferente do seu usual, e olha diretamente para Ally como se estivesse hipnotizado por ela. Pode até ser só uma impressão minha, talvez ele só esteja a observando já que de todas as meninas ela é a mais habilidosa no vôlei, mas não consigo desviar a minha mente do olhar pesado que ele tem sob ela. "Com certeza não é o olhar de um professor sob uma aluna!" eu penso, mas tento afastar esse pensamento. Eu nunca fui de babar o ovo de professores, mas tenho um carinho especial por Vicente, já que gosto tanto da matéria dele, e ele é um dos únicos professores que sinceramente parece se importar com os alunos. Então tiro isso da minha mente. A Ally é linda, tem um corpo do qual até eu teno inveja.  Não é surpresa nenhuma que mesmo um homem maduro ou até um professor olhe para ela dessa forma, mas não deixa de ser algo estranho.

Quando faltam 5 minutos para a aula acabar Tales pede para que todas sentem nas arquibancadas para ouvir o recado de Vicente.
- Bom dia a todas! - Vicente diz simpático.
- Bom dia professor Vicente! - respondemos em uníssono.

- Bom, creio que a maioria de vocês, se não todas já me conhecem. Mas não custa me apresentar novamente: eu sou o Professor Vicente Alcantra, leciono literatura para alunos do segundo ao terceiro ano aqui no Thomas Jefferson. Mas hoje estou aqui não como professor, mas como um amigo de vocês...

- Não acredito que logo o Vicente vai vir com esse papo de "professor mano", isso não cola. - Joanna fala baixo apenas para mim, e eu riu em resposta. - Se bem que ele é tão gostosinho que eu até ficaria mui amiga dele, se é que me entende. - ela diz no meu ouvido e eu olho para ela balançando a cabeça em negativa. Ah, se ela soubesse que ele também achava uma aluna "gostosinha", mas essa estava do meu lado direito alheia a aquela conversa.

-  ... hoje como sabem é um dia muito especial para os alunos do Thomas Jefferson: o Dia do Cupido. Uma data conquistada por alunos que assim como vocês queriam confraternizar com os próximos. Esse espírito de amizade vai está sendo celebrado hoje por toda a escola - Vicente diz animado, como se realmente acreditasse que é isso que esse dia significa, mas não acredito que ele seja tão inocente assim para não saber que na realidade não passa de mais uma disputa de popularidade.

- ... é um dia de mostrar o quanto as pessoas com quem você estuda são importantes para você, e vocês estão fazendo isto por meio das cartas e caixinhas que o grêmio distribui em cestas pela escola. Como sabem, hoje a noite, para terminar o dia com chave de ouro, a escola vai realizar uma festa no lago onde todos estarão convidados, como uma forma de incluir e integrar todos vocês. Uma verdadeira confraternização entre povos de tribos diferentes, diria eu. - e ele dá uma risadinha da própria piada - Como a festa é realizada na escola é óbvio que vocês já estejam cientes de certas regras. Não é querendo ser chato, mas não podemos permitir que as coisas saiam dos limites. Por isso vim aqui a pedido do diretor Araripe para repassar algumas informações que vocês já devem saber, mas que é sempre bom garantir.

- Não será permitido a entrada de bebidas ou qualquer tipo de drogas, obviamente.
- Nem as orgânicas? - Alícia uma das alunas que faz parte de uma panelinha mais "hippie" pergunta séria e todos riem baixinho.
- De nenhum tipo. - Vicente diz sério. - Aluma outra pergunta?
Todos ficam em silêncio. Nós já esperávamos por isso já que todo ano alguém dá esse aviso.

Normalmente o Diretor Araripe faz ele mesmo esse anuncio pelos mega fones da escola, mas no ano passado alguém armou um trote e no lugar da voz do diretor a gravação que foi ao ar foi de gemidos um tanto insinuantes por toda a escola. A maioria achou graça, mas o pessoal mais religioso ficou um bem incomodado a ponto de alguns pais virem na escola tirar satisfação. Até hoje não acharam os culpados, ao menos, não oficialmente já que é de conhecimento geral que Arthur e Micael armaram tudo isso. Resumindo desde então estamos livres de avisos repentinos soando pelos corredores, mas sempre vem algum professor de turma em turma dá um aviso.


- Bom, sendo assim bom almoço para vocês. - Vicente diz se despedindo.
- Estão liberadas! Piii - Professor Tales grita e apita em seguida quase nos deixando surdas.
Todas nós saímos da quadra e vamos em direção as vestiários novamente, para mais uma rodada de discórdia...







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Before I Go- Antes que eu vá -PRÓLOGO

Before I go - Antes que eu vá

O que há por trás da Raiva e do Amor